LEMBRE-SE:
COLOCAÇÃO PRONOMINAL (II): PRÓCLISE
Vimos na publicação anterior quais são os casos inadmissíveis de colocação pronominal, de acordo com a norma culta. Hoje, veremos quando se deve empregar a próclise, ou seja, o pronome antes do verbo. Isso sempre ocorrerá:
1) Quando antes do verbo houver palavras que atraem o pronome átono. Vejamos quais são essas palavras:
– Aquelas de sentido negativo (não, nunca, jamais, nenhum)
“Não lhe desejo mal, apenas que você desapareça!”
“Ninguém o nota, porque ele é discreto mesmo.”
– Os pronomes relativos que, quem, onde, cujo, cuja, etc.
“Você viu quem nos visitou hoje?”
“Foi naquele momento que Renata percebeu o que se teria passado, se não tivesse saído a tempo.”
– As conjunções subordinativas
“Se me der na telha, vou à praia ainda hoje.”
“Ainda que lhe sejam solidários, os países árabes pouco podem fazer pelos palestinos na Faixa de Gaza.”
Uma observação: mesmo se houver elipse (omissão) da conjunção, deve-se empregar a próclise.
“Caso o interrogado se exalte e nos provoque, não desistiremos de fazer todas as perguntas, por mais duras e incisivas que sejam.”
– Certos advérbios
“Sempre lhes vem à mente um sentimento de injustiça, ao verem a precária situação em que vivem os povos originários no Brasil.”
“Quando nos encontraram, já passava das dez da noite.”
– Os pronomes indefinidos tudo, nada, pouco, muito, quem, todos, alguém, algo, nenhum, ninguém, quanto.
“É essa a famosa figura a quem vocês se referiam? Confesso que ignorava até agora de quem se tratava.”
“Esse ator é muito exigente, nada lhe agrada, nem mesmo os roteiros mais bem escritos por autores famosos.”
2) Nas orações optativas, aquelas que exprimem um desejo, sempre que o sujeito vier antes do verbo.
“Boas-novas o trazem aqui, não?
“Que Deus lhe proteja, pois eu não queria estar na sua pele de jeito nenhum!”
3) Nas orações exclamativas que se iniciam com expressões exclamativas.
“Se você tivesse ideia do quanto lhe custa fazer isso, talvez nunca mais pediria um favor a ela!”
“Como se iludem aqueles que realmente acreditam no que dizem certas autoridades!”
4) Nas orações interrogativas iniciadas por palavras interrogativas.
“Por que as atrai tanto aquele cantor? Honestamente, ele é esquálido e canta como um marreco rouco!”
“Quem se atreveria a dizer ao depoente que tudo o que ele afirma pode ser facilmente desmentido por fatos óbvios?”
Algumas observações:
Em tempos verbais compostos e em locuções verbais, vale uma ressalva: na fala brasileira, a prevalência é a de se empregar o pronome entre os verbos, mesmo se houver um termo que “obrigaria” o uso da próclise. Por exemplo:
“Eles disseram que não vão se juntar a nós, em hipótese alguma.”
“Há réus que sempre vão se defender, usando os argumentos mais espúrios.”
Aqui, as palavras “não” e “sempre”, que determinariam a próclise, não foram levadas em consideração.
A anteposição do pronome é típica do falar lusitano.
“Eles disseram que não se vão juntar a nós, em hipótese alguma.”
“Há réus que sempre se vão defender, usando os argumentos mais espúrios.”
Interessante notar um trecho da famosa canção “Reconvexo”, de Caetano Veloso, em que ele faz uso dessa sintaxe lusitana de colocação.
“Eu sou o cheiro dos livros desesperados, sou Gita Gogoya, seu olho me olha, mas não me pode alcançar.”
A única ressalva nos tempos compostos é que o pronome não poderá aparecer depois do particípio. Portanto, devemos dizer:
“Os últimos trabalhos desse autor não têm me agradado.”
Ou: “Os últimos trabalhos desse autor não me têm agradado.”
Se não houver nenhum fator de próclise, o pronome oblíquo pode aparecer em qualquer posição.
“Com esse depoimento, eles estão se encrencando.”
“Com esse depoimento, eles estão encrencando-se.”
“Com esse depoimento, eles se estão encrencando.”
Aqui, encerramos nosso tópico sobre próclise. Veremos na sequência as regras de mesóclise e ênclise.