LEMBRE-SE:
Crase (VII): uso facultativo
Vejamos dois casos em que o uso da crase é opcional:
- Antes de pronome possessivo
“Emprestei à/a sua irmã dois livros, para que ela pudesse concluir a pesquisa sobre o expressionismo alemão no cinema do período pós-Primeira Guerra Mundial.”
“Sejam bem-vindos à/a nossa cidade, esperamos que gostem das inúmeras atrações. Somos conhecidos como o polo dos parques aquáticos e águas termais do interior de São Paulo.”
A razão por que aqui é facultativo o uso da crase é simples: antes de pronome possessivo, podemos usar, ou não, o artigo.
“Sua teoria sobre vida extraterrestre é muito esdrúxula, não dá sequer para entender!”
OU
“A sua teoria sobre vida extraterrestre é muito esdrúxula, não dá sequer para entender!”
“A ciência sempre se pauta por colocar em xeque nossas crenças mais arraigadas, é assim que ela funciona e progride.”
OU
“A ciência sempre se pauta por colocar em xeque as nossas crenças mais arraigadas, é assim que ela funciona e progride.”
- Com a locução até a, antes de palavra feminina
“Fomos até a/à praça, para ver o pôr do sol.”
Corri até a/à estação e consegui pegar o último trem que partia para o interior.”
Nesse caso a crase é opcional porque, quando empregamos nomes masculinos, o uso do artigo o é facultativo.
“Fomos atéo/aoshopping para aproveitar a liquidação de inverno.”
“Chegou até o/ao ponto de táxi, mas voltou porque se lembrou de ter deixado o portão destrancado.”
No uso de até a, vale uma ressalva importante: quando houver ambiguidade, o uso da crase será necessário. Vejamos este caso, por exemplo:
“As labaredas de fogo consumiram tudo, até à porta do estabelecimento comercial.” (= o fogo queimou tudo, chegou até à porta, mas esta não foi queimada)
“As labaredas de fogo consumiram tudo, até a porta do estabelecimento comercial.” (= o fogo queimou tudo, inclusive a porta)
Antes de concluirmos, vale reiterar que o uso do acento indicativo de crase é algo a que devemos estar muito atentos, pois dele pode depender o sentido do que queremos expressar. Para ilustrar, relembremos, por exemplo, alguns poucos casos em que um mero acento grave pode mudar totalmente o sentido:
Cheirar a rosa (sentir o perfume da flor)
Cheirar à rosa (exalar o perfume da flor)
Matar a fome (saciar a vontade de comer)
Matar à fome (deixar alguém sem comer até morrer)
Pintar a mão (colorir a mão. No caso, pintar as unhas)
Pintar à mão (usar a mão para pintar)
Ufa, finalmente terminamos nossa série sobre crase! A lista de regras não é pequena, mas elas podem ser gradualmente assimiladas, sem pressa nem autocobranças excessivas. Esperamos que nossos verbetes ajudem a todas e a todos a compreender que o uso da crase não é uma “firula”, mas algo que revela e exige uma compreensão da relação entre as palavras em uma frase.