LEMBRE-SE:
O USO DE ESTRANGEIRISMOS
Em março de 2001, a Câmara dos Deputados aprovou um projeto de lei de autoria do então deputado federal pelo PCdoB Aldo Rebelo. A intenção do parlamentar era alertar sobre o uso abusivo de expressões estrangeiras, sobretudo quando há um termo equivalente em português. O projeto tinha como objetivo defender a língua portuguesa, inclusive com sanções, contra o emprego desmesurado de palavras estrangeiras no comércio, nos meios de comunicação, na publicidade e em estabelecimentos de ensino. O projeto de lei não foi aprovado pelo Senado e foi criticado por muitos linguistas. Só esse exemplo anedótico serve para mostrar o quão controverso é nosso tema de hoje.
O emprego de palavras, expressões e construções tomadas por empréstimo de outra língua é o chamado estrangeirismo. Como já mencionamos, este é um tema polêmico. Há quem argumente a favor e quem seja contra o uso abusivo de termos estrangeiros na nossa linguagem cotidiana. Para uns, o uso de estrangeirismos é sinal de submissão a uma cultura proveniente de um país econômica e culturalmente preponderante; para outros, é sinal dos tempos, reflexo do intenso intercâmbio econômico e cultural. Enfim, trata-se de uma discussão em que todos podem ter razão. Por isso, é preciso bom senso para abordar a questão.
Uma palavra ou expressão estrangeira deve estar presente no texto quando for absolutamente indispensável, ou quando for de uso consagrado e não existir uma tradução perfeita, que abarque todas as suas nuanças. Exemplos não faltam: schadenfreude, expressão alemã que designa o prazer que se pode sentir com a angústia alheia. Outra expressão alemã muito usada, por consagração, é zeitgeist, que remete ao espírito de uma época, o reflexo do ambiente cultural e intelectual de um dado momento histórico. Em francês, existe a palavra dépaysement, cujo significado é o de não se sentir à vontade em um contexto de cultura estrangeira, de não se ver como pertencendo a um contexto cultural que não é o seu original. Ainda em francês, existe a expressão noblesse oblige, usada em um contexto no qual se quer dizer que o exemplo ético/moral cabe a quem está em uma posição social tida como “superior”.
O emprego dessas palavras e expressões “economiza” conversa, pois, geralmente, seu sentido é de conhecimento de muitas pessoas. No entanto, é sempre bom lembrar que, em excesso, os estrangeirismos podem tornar o texto, ou a conversa, pretensioso, pedante. Pode dar a impressão de que a pessoa quer depreciar seu interlocutor, elaborando um discurso compreensível somente por pessoas versadas em línguas estrangeiras.
No tocante à grafia, uma regra que vale para os estrangeirismos é não escrever na forma original uma palavra que já tenha sido aportuguesada. Assim, devemos escrever uísque e não whisky; conhaque e não cognac; tarô e não tarot; leiaute e não layout, entre outros exemplos. Além dessas, uma série de palavras do nosso vocabulário teve origem em outros idiomas. Tais palavras passaram por um processo de aportuguesamento, adaptando-se às normas ortográficas da língua portuguesa: ateliê (do francês atelier); balé (do francês ballet); basquetebol (do inglês basketball); coquetel (do inglês cocktail); estresse (do inglês stress); e muitas outras.
Portanto, sempre que houver um equivalente em português, devemos empregá-lo: primeiro-ministro em vez de premier; padrão em vez de standard; ruína/derrocada em lugar de débâcle; desempenho em vez de performance; nos bastidores no lugar de backstage. Enfim, a lista é grande.
Naturalmente, o cuidado em preferir os nossos vocábulos em detrimento de palavras ou expressões estrangeiras não deve assumir um aspecto de censura. Como já dissemos, sempre deve prevalecer o bom senso. Expressões como shopping center, delivery ou petshop já estão tão incorporadas ao cotidiano de todos, que fica difícil combater seu uso, sob pena de soar xenofóbico ou de exibir um patriotismo um tanto quixotesco, ou seja, ingênuo, exacerbado.
Com este verbete sobre estrangeirismos, chegamos à nossa 100.a edição! Foram 100 oportunidades de aprendizado, 100 oportunidades de divulgar conteúdos para a melhor compreensão do uso do nosso idioma e um melhor conhecimento da língua portuguesa, nosso instrumento de comunicação, nossa ferramenta de trabalho.
Aproveitamos a ocasião para desejar a todos um Feliz Natal e um ótimo Réveillon (olha aqui mais um estrangeirismo!). Que 2022 seja um ano de muitas conquistas e felicidade, permeado de saúde e paz!