Existem alguns verbos que não apresentam conjugação completa, ou seja, não têm todas as formas, não sendo, portanto, conjugados em determinados modos, tempos e pessoas. São os chamados verbos defectivos.
A ausência dessas formas ocorre por diferentes motivos: sons dissonantes, cacofonia, ou, até mesmo, para não confundir com outra forma verbal de uso mais frequente.
Em termos práticos, podemos dizer que há três grupos de verbos defectivos:
1) Verbos que não têm formas nas quais ao radical se seguem as vogais a ou o, o que acontece apenas no presente do indicativo, no presente do subjuntivo e no imperativo. Pertencem a este grupo os verbos: aturdir, brandir, carpir, colorir, delir, demolir, exaurir, explodir, extorquir, fremir, puir, retorquir, entre outros.
2) Verbos que se usam unicamente nas formas em que, depois do radical, vem a vogal i, como, por exemplo, os verbos: aguerrir, combalir, empedernir, esbaforir, falir, florir, fornir, entre outros.
3) Casos especiais: grassar, precaver/precaver-se e reaver.
Extorquir é um verbo defectivo, exemplar do primeiro grupo. Vejamos:
No presente do indicativo, não é conjugado na 1.a pessoa do singular (eu): _____ − Tu extorques – Ele extorque - Nós extorquimos – Vós extorquis - Eles extorquem
Observe que a forma verbal (eu) “extorco” não existe. Podemos empregar verbos de sentido equivalente: eu “arranco”, eu “tomo à força”, eu “usurpo”. Do mesmo modo, não se pode falar ele “extorca” (e sim ele extorque). Por isso, dizemos que um verbo defectivo não tem seu radical seguido de a ou o.
O verbo extorquir também não é conjugado no presente do subjuntivo, uma vez que este se forma a partir do radical da 1.a pessoa do singular do presente do indicativo (no caso, forma verbal inexistente).
Extorquir também não apresenta conjugação no imperativo negativo, pois nesse modo todas as pessoas são conjugadas da mesma forma que o presente do subjuntivo, no caso inexistente.
No imperativo afirmativo, o verbo é conjugado apenas na 2.a pessoa do singular e na 2.a pessoa do plural, eliminando-se o s final: extorque tu − extorqui vós. As demais pessoas não são conjugadas, pois derivam do presente do subjuntivo.
A exemplo de extorquir, temos o mesmo tipo de conjugação nos verbos exemplificados no primeiro grupo, acima.
A esse respeito, podemos observar que os verbos defectivos deste primeiro grupo pertencem à 3.a conjugação, aquela cujo infinitivo termina em -IR.
Por fim, voltando ao verbo extorquir, vale observar que, às vezes, ocorre uma inadequação ao empregá-lo. Originado do latim extorquere, extorquir significa “arrancar alguma coisa de alguém”. É correto dizer “extorquir a confissão, o dinheiro de uma pessoa”. Mas é inadequado dizer “extorquir alguém”, pois não é possível “arrancar” alguém. Quando for empregar o verbo, lembre-se de substituí-lo por “arrancar”, para verificar se está empregando corretamente.
No nosso próximo verbete, destacaremos mais exemplos de verbos defectivos pertencentes aos outros grupos, para, assim, vermos como certas formas verbais devem ser usadas com critério, sob risco de usarmos algo inexistente na língua portuguesa ou não referendado pelas principais gramáticas e dicionários.