08/09/2020
Cinco diálogos realizados entre 31 de agosto e 4 de setembro, no evento “Desnudando Estereótipos”, trouxeram à luz temas contemporâneos acerca de gênero, como dificuldades para a ascensão da mulher juíza, participação feminina na arte do grafite, neurociência e tomada de decisão, a mulher com mais de 50 anos e tabus sobre diversidade.
Todas as exposições foram transmitidas pelo canal da Escola de Magistrados da Justiça Federal da 3.a Região (EMAG) no YouTube, onde permanece acessível a íntegra de cada um.
O evento “Desnudando Estereótipos” foi uma iniciativa da EMAG e da Comissão de Equidade de Gênero do Tribunal Regional Federal da 3.a Região e foi organizado pela Diretora da Escola e Coordenadora da Comissão, Desembargadora Federal do TRF3 Therezinha Cazerta, pela também Desembargadora Federal do TRF3 Inês Virgínia e pelas Juízas Federais Márcia Hoffmann e Renata Lotufo.
No primeiro diálogo, em 31 de agosto, a ex-Presidente do Supremo Tribunal Federal Ellen Gracie Northfleet abordou o tema “Mulher Juíza e Estereótipos”. Ela observou as dificuldades de ascensão da mulher em carreiras como a magistratura e recorreu à metáfora do sapatinho de cristal dos contos de fada para afirmar que as conquistas não decorrem do acaso, mas as as de esforço, desgaste e trabalho.
“Muitas vezes, as pessoas esperam que tudo se resolva. ‘Eu vou ficar em casa de braços cruzados e alguém vai vir com um sapatinho de cristal e acertar o tamanho do meu sapato.’ Não é assim nem na vida pessoal nem na profissional. Você precisa realmente cumprir todas as etapas de uma liturgia de acesso.”
No segundo diálogo, no dia 1º, a Desembargadora Federal Inês Virgínia expôs sobre “Gênero e Grafite”. Ela citou o movimento Guerrilha Girls, que protesta contra a baixa participação feminina nas exposições em museus e lamentou essa ocorrência també/m nas manifestações artísticas de rua.
“A gente tem no plano internacional o movimento da Guerrilha Girls, que tem denunciado exatamente a falta de mulheres nas exposições nos museus, em obras pintadas por artistas plásticas mulheres. Geralmente as mulheres são retratadas, e o Guerrilha Girls faz essa denúncia, as mulheres são retratadas geralmente nuas, nos quadros mais antigos, e há poucas mulheres que são as protagonistas. No mundo das artes também de rua, as mulheres poucas vezes ocupam esse espaço. Há grafiteiras já importantes, há projetos importantes que resgatam a arte feminina, o olhar feminino.”
No diálogo “Decisão e gênero sob a ótica da neurociência”, no dia 2, a neurocientista Camila Campanhã fez abordagem científica sobre diferenças entre homens e mulheres em relação à tomada de decisão, explicando como os hormônios interferem em sentimentos como empatia.
“Os estudos mostram que níveis elevados de ocitocina fazem com que as pessoas tenham comportamento agressivo com quem ameaça o seu grupo. Então, aquele que parece ser ameaçador à existência do meu grupo, da minha prole no caso das mulheres, que têm níveis de ocitocina mais elevado que os homens, o comportamento é agressivo.”
Ainda segundo Camila Campanhã, há estudos demonstrando que “as mulheres tendem a punir de forma mais justa tanto o desconhecido quanto o amigo, quando esses dois violam a norma de confiança, de cooperação e de reciprocidade, do que os homens”.
A Juíza Federal Claudia Mantovani Arruga explanou, no dia 3, sobre “Os novos 50 anos – quais são nossas escolhas para viver a maturidade”. Influencer digital com o perfil @Cool50s no Instagram e colunista da Vogue, ela falou com propriedade sobre a necessidade de ruptura com preconceitos em torno do envelhecimento feminino para usufruir dessa fase da vida.
“Eu acredito que a mulher de 50 anos está na plenitude, está com o potencial máximo dela, porque já sabe exatamente o que quer e o que não quer. Já passou por várias experiências pessoais e profissionais e não tem mais tempo a perder com coisas que não significam mais nada.”
A semana de diálogos foi encerrada com a exposição da escritora e pesquisadora transfeminista Bruna Benevides sobre “Mitos e Tabus sobre Diversidade de Gênero”. Ela destacou o importante papel do Poder Judiciário no reconhecimento de direitos, mas citou obstáculos ainda existentes para a efetivação desses direitos.
"Nós mulheres ainda somos vistas como cidadãs de segunda categoria. E as pessoas LGBTI, especialmente mulheres trans, ainda estamos lutando para sermos vistas enquanto pessoas. Ainda não conseguimos, exatamente por conta desse processo. A gente avançou na conquista de alguns direitos, mas ainda esse direito não está sendo efetivado."